Itália x Alemanha 1970: A prorrogação mais épica da história do futebol
Poucos jogos na história do futebol conseguiram capturar a essência do esporte como a semifinal da Copa do Mundo de 1970 entre Itália e Alemanha Ocidental. Disputado no Estádio Azteca, na Cidade do México, esse confronto foi muito além de uma simples partida: tornou-se um verdadeiro espetáculo de resistência, técnica e emoção. O jogo foi tão marcante que, anos depois, uma placa foi colocada no estádio com a inscrição: “O Jogo do Século”, eternizando o embate como um dos momentos mais épicos do futebol mundial.
Aquela Copa do Mundo já era especial por diversos motivos. Era a primeira vez que o torneio era transmitido ao vivo e em cores para todo o planeta, aproximando os torcedores como nunca antes. Além disso, os campos mexicanos testemunharam uma das edições mais ofensivas da história, com partidas cheias de gols e atuações inesquecíveis de craques como Pelé, Jairzinho, Gerd Müller e Gianni Rivera. Nesse contexto, Itália e Alemanha chegaram à semifinal com a missão de provar quem merecia enfrentar o Brasil na grande decisão.
O jogo, que terminou 4×3 para a Itália após uma prorrogação eletrizante, foi um verdadeiro teste de resistência para os jogadores. O calor intenso do meio-dia mexicano, a altitude e a maratona de jogos tornaram a partida ainda mais desgastante. Mas nada disso impediu que os 22 atletas em campo escrevessem uma das histórias mais fascinantes do futebol, com gols de tirar o fôlego, heróis improváveis e lances que ficaram para sempre na memória dos torcedores.
O Caminho até a Semifinal
A Itália chegou à semifinal com uma campanha sólida, mas sem brilho. A equipe, comandada pelo técnico Ferruccio Valcareggi, era conhecida por seu estilo de jogo defensivo, característica do famoso “catenaccio”. Na fase de grupos, os italianos venceram a Suécia por 1×0 e empataram sem gols com Uruguai e Israel, avançando com um futebol pragmático. Nas quartas de final, no entanto, a Azzurra mostrou sua força ao vencer o México por 4×1, em um jogo onde Gianni Rivera e Luigi Riva foram os destaques.
A Alemanha Ocidental, por outro lado, tinha um time ofensivo e envolvente, liderado por craques como Franz Beckenbauer, Gerd Müller e Uwe Seeler. Os alemães fizeram uma primeira fase impecável, vencendo Peru (3×1), Bulgária (5×2) e Marrocos (2×1). O maior desafio veio nas quartas de final, quando enfrentaram a Inglaterra, atual campeã do mundo. Em uma partida dramática, a Alemanha virou o jogo de 0x2 para 3×2 na prorrogação, com gols de Beckenbauer, Seeler e Müller, mostrando um espírito de luta impressionante.
Com campanhas distintas, Itália e Alemanha Ocidental se encontrariam para decidir quem enfrentaria o Brasil de Pelé na grande final. De um lado, uma defesa quase intransponível; do outro, um ataque fulminante. O embate prometia ser intenso, mas ninguém imaginava que se tornaria um dos maiores jogos de todos os tempos.
O Jogo do Século: Um Espetáculo Inesquecível
No dia 17 de junho de 1970, mais de 102 mil torcedores lotaram o Estádio Azteca, na Cidade do México, para assistir ao confronto entre Itália e Alemanha Ocidental. Desde o apito inicial, ficou claro que seria uma partida histórica. Logo aos 8 minutos, a Itália abriu o placar com Boninsegna, que aproveitou uma falha da defesa alemã e bateu firme para marcar o primeiro gol. O jogo seguiu intenso, com a Alemanha pressionando, mas esbarrando na forte defesa italiana, comandada por Facchetti e Burgnich.
O empate alemão só veio nos últimos segundos do tempo regulamentar, quando Karl-Heinz Schnellinger aproveitou um cruzamento e, com um toque sutil, venceu o goleiro Albertosi. O gol levou a partida para a prorrogação, dando início a um dos momentos mais emocionantes da história do futebol. Durante os 30 minutos extras, um verdadeiro festival de gols aconteceu. Gerd Müller marcou duas vezes para a Alemanha, enquanto Burgnich e Riva responderam para a Itália. No fim, Gianni Rivera, com um chute preciso após um passe de Boninsegna, fez o gol da vitória italiana: 4×3.
O jogo foi um teste de resistência e superação. O capitão alemão Franz Beckenbauer, que havia deslocado o ombro durante a partida, continuou em campo mesmo sem poder mexer um dos braços, já que a equipe já havia feito todas as substituições. Seu espírito de luta, assim como o desempenho brilhante das duas seleções, transformou aquela semifinal em um espetáculo imortalizado na história do futebol.
O Legado do Jogo do Século
A semifinal entre Itália e Alemanha Ocidental em 1970 transcendeu sua importância esportiva e se tornou um símbolo da paixão pelo futebol. A intensidade do confronto, a reviravolta dramática e a resistência física dos jogadores ajudaram a consolidar essa partida como um dos maiores espetáculos da história do esporte. O jogo foi tão marcante que a FIFA o reconheceu oficialmente como “O Jogo do Século”, e uma placa foi instalada no Estádio Azteca para eternizar o momento.
Para a Itália, a vitória foi um marco importante, levando a equipe à final contra o Brasil. No entanto, os italianos não conseguiram repetir o mesmo desempenho e foram derrotados por 4×1, em uma exibição brilhante da seleção brasileira comandada por Pelé, Gerson, Tostão e Jairzinho. Mesmo com o vice-campeonato, a geração italiana de 1970 entrou para a história, e nomes como Rivera, Riva e Facchetti se tornaram ídolos eternos.
A Alemanha Ocidental, apesar da derrota, demonstrou o espírito de luta que se tornaria sua marca registrada nas décadas seguintes. O heroísmo de Franz Beckenbauer, jogando com o ombro deslocado, reforçou a imagem de uma seleção que nunca desistia. Apenas quatro anos depois, em 1974, os alemães conquistariam a Copa do Mundo em casa, coroando uma das gerações mais talentosas de sua história. Assim, o “Jogo do Século” não foi apenas um momento isolado, mas um ponto de inflexão na trajetória do futebol mundial.
Como o Jogo é Lembrado Hoje
Mais de cinco décadas depois, a semifinal entre Itália e Alemanha Ocidental em 1970 continua sendo uma referência para amantes do futebol. Sempre que se fala em grandes partidas da história, este jogo surge como um exemplo máximo de emoção, resistência e qualidade técnica. As imagens de Beckenbauer jogando com o ombro imobilizado, os cinco gols na prorrogação e a comemoração de Gianni Rivera após o gol decisivo ainda são relembradas em documentários, livros e matérias esportivas.
O impacto dessa partida foi tão grande que influenciou a forma como o futebol passou a ser jogado. A Itália, conhecida por seu futebol defensivo, mostrou que também sabia atacar quando necessário. Já a Alemanha Ocidental, apesar da derrota, reforçou sua reputação de equipe que nunca se entrega, algo que se tornaria uma de suas maiores características nas décadas seguintes. Essa mentalidade foi crucial para suas futuras conquistas, como a Copa do Mundo de 1974, 1990 e 2014.
Além disso, o “Jogo do Século” segue vivo na memória dos torcedores graças à sua repercussão na cultura popular. Programas esportivos, videogames e até mesmo exposições comemorativas continuam a celebrar essa partida como um dos maiores espetáculos do futebol mundial. Em tempos de futebol cada vez mais tático e físico, a lembrança desse jogo serve como um lembrete do que torna o esporte tão apaixonante: sua imprevisibilidade e a capacidade de emocionar gerações.
Lições que o Jogo do Século Deixou para o Futebol
A semifinal entre Itália e Alemanha Ocidental em 1970 não foi apenas um espetáculo memorável, mas também uma partida repleta de lições que permanecem relevantes para o futebol moderno. Um dos principais ensinamentos foi a importância da resiliência e da superação. A Alemanha Ocidental demonstrou esse espírito ao buscar o empate nos acréscimos do tempo regulamentar e continuar lutando mesmo quando o jogo parecia perdido. O exemplo mais icônico disso foi Franz Beckenbauer, que se recusou a sair de campo, jogando com o ombro deslocado até o apito final.
Outra grande lição foi o equilíbrio entre tática e emoção. A Itália, tradicionalmente conhecida por seu estilo defensivo, teve que sair da sua zona de conforto e jogar de forma mais ofensiva para vencer uma equipe alemã extremamente determinada. Esse jogo mostrou que, mesmo em torneios onde a solidez defensiva costuma ser decisiva, a ousadia e a busca pelo gol podem fazer a diferença. Hoje, seleções bem-sucedidas, como a Alemanha de 2014 e a França de 2018, combinam organização tática com um estilo de jogo propositivo.
Por fim, essa partida reforçou que o futebol é, acima de tudo, um esporte imprevisível e apaixonante. Nenhum roteiro de cinema poderia ter escrito uma prorrogação tão eletrizante, com cinco gols e uma virada atrás da outra. O “Jogo do Século” continua sendo um lembrete de que, no futebol, tudo pode acontecer, e é justamente essa imprevisibilidade que mantém milhões de torcedores apaixonados pelo esporte em todo o mundo.
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